terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Em teu leito silêncio


Para o Ano Novo, um companheiro muitas vezes necessário e geralmente conselheiro: o silêncio. Que 2010 seja estupendo!





Em teu abraço misterioso
Entrego, cega e moca, a serenidade de meus dias

Envolta em tua densa sabedoria (suposta)
Largo meus membros frouxos e pensamentos soltos

Estende teu imenso e calmo colo
onde deito meu corpo e sentidos
(agora tão distantes)

E só assim, completamente entregue,
consigo reconhecer a humanidade em mim
(há muito perdida)

O leito do silêncio é a cama que conforta a ignorância
do mundo e dos homens
Posto que aliena e dá conhecimento,
a um só tempo,
dos sentimentos do homem
e das coisas do mundo

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Gotas Secas




Não recebeu as gotas de intensidade
do fragmentos de chuva que lhe enviei?
...eu recebi sua mala de não-respostas
e as várias páginas das suas cartas branco-gelo

O silêncio é uma bela música
quando testemunha a cumplicidade do encontro
Mas compõe tediosa melodia
se orquestrado para consolidar uma distância

Mas não se impressione com estes versos
(e nem fantasie qualquer medo assim tão cedo)
que eles não têm intenção de escrever qualquer história...
Existem unicamente para o meu próprio deleite,
para gozar o mágico e delicioso processo
de me confundir com o mundo!

sábado, 28 de novembro de 2009

Turba




Tantos e tão surpéfluos...
Com seus cotidianos mesquinhamente grandiosos
E seus feitos absurdamente comuns

E falam, falam, gritam e vociferam
absolutamente nada

Cansei da turba que se impõe escandalosa
Mil vezes o silêncio estrondoso da tua poesia...!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Soneto para Luana...

Porque a Nah é linda...! E ela escreveu:



Minas Gerais
Meninas Gerais
São Paulo
Não tem santo que a segure
Capixaba
Sim ela é assim
Em qualquer lugar no Brasil
Ela é sim
Nunca não
Luana Bonone
Lua
Ana
Bono
One
Uma
Única
Bela
Flor bela
Flor dela
Ela
Flor do Brasil
Mulher do dia
Amante da noite
Força
Inteligência
Coragem
História
Mulher do samba
Menina do forró
Aquece qualquer noite
Porque tem o borogodó
Foi só pra rimar...
Mas verdade seja dita
De todas, ela é a mais bonita.
Essa não foi para rimar
Mas falando a verdade
O xodó dela é o Ceará
Ela bem sabe
E não quer declarar
Que de todos os encantos
O que ela mais deseja
É o Ceará!
Brincadeira
Ela é do Brasil
E o Brasil é dela
Ela tudo pode
Ela tudo faz
Merece essa singela homenagem
Porque é uma mulher capaz
Amo você Luana
Amo sua amizade
Segue teu caminho de LUz...

Nah do Ceará



(agora fiquei encabulada... rsrs... mas achei tão lindinho ela escrever, então tá aí!)

sábado, 21 de novembro de 2009

Fragmento de chuva


Haja chuva para alimentar toda essa vontade,
com o ruído sereno que nos envolve quando,
matreira,
ela desce do céu
anunciando a alegria do sol em férias

domingo, 15 de novembro de 2009

Poesia da Vida




Queria a estrofe de um forró
Para singela e doce falar do meu amor
Um só verso de qualquer Vinícius
Para a grandiosidade do que quero sentir

Quero a sensibilidade de olhos verdes
Que adentra a alma feminina
E desvenda o Brasil
Como só um Francisco pode desaguar

Quero enfim arrebatar a vida e as paixões
Na estrela de Clarice
No sofrimento de Florbela
Na simplicidade de Cora
E na emancipação de Elisa

Quero guardar em mim
Todos os sentimentos drumonianos
E libertar versos a cada poesia vivida

terça-feira, 10 de novembro de 2009

FAMÍLIA INOCENTE


Pois meu irmão também resolveu escrever... e eu fiquei absolutamente encantada com a sensibilidade dele, portanto, divido-a com o mundo! (imagem: "A família", de Tarsila do Amaral, 1925)



"FAMÍLIA INOCENTE


Sempre achei que a inocência fosse uma das características infantis a serem preservadas pelos adultos. De repente percebi que minha família é assim.

O pai feliz porque o mundo é belo e prefere sempre confiar primeiro em quem quer que seja. Êta monte de amigos.

A mãe acredita que a felicidade está nas pequenas coisas e esconde alguns pensamentos e sentimentos achando que outros não irão percebê-la.

Toda essa inocência reflete nos filhos, parece espelho, e contagia quem está em volta.

O filho mais velho acha que sabe tudo sobre tudo, que pode mudar o mundo, ainda que não assuma, e também tem um monte de amigos.

O filho do meio adora confiar nos outros, mesmo sabendo que o ser humano é “pouco confiável”, e muitas vezes demoooora para entender a piada ou situação!!

Já a filha mais nova acredita e luta com todas as suas forças, são muitas, para fazer o que é certo e mudar o rumo de uma nação, quem sabe do mundo, mesmo sabendo que a essência humana de fazer primeiro para si jamais mudará.

A nora, recém chegada e muito amada por todos, vem de uma família igualmente inocente. Ela também acha que a felicidade está na simplicidade.

Todos, ainda, exibem algumas características de inocência em comum. Acreditam, lutam, falam, têm uma gostosa teimosia sobre seus pensamentos e AMAM.

Esta manifestação de pensamento (amor) pode parecer romântica e até que a inocência seja algo ruim ou que o mundo não tem mais jeito. Mas tentem pensar em um mundo mais inocente, um mundo de crianças. Acho que seria bem melhor.

A inocência é um dos reflexos do amor.

Sim, podemos mudar o mundo.

Rafael Meneguelli Bonone"
 
Saudades!!!! Corujamente,




Luana Bonone

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vileza

Eu não deveria ser patética
Tenho atributos suficientes para ser grande
E muitos até acham que sou!
(parecem não desconfiar da minha ridícula condição)

Eu não devia ser tão ínfima
Não sou mesquinha nem burra
Os mais perceptivos me admiram pela generosidade,
pela abnegação...
Sou nobre, embora de modos simples

Eu não devia ser tão pouco
De tanto que poderia ser

Mas ocorre que tenho defeito incorrigível
Que ultrapassa o medo, a fraqueza
e até a ignorância
Tenho defeito indigno de perdão a qualquer deus
e desprezado por anjos, demônios e poetas

Eu não devia ser tão vil
Mas padeço da pior de todas as desgraças:
pertenço à miserável raça humana!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Barbas da sensibilidade

Lateralmente me aprofundo na verticalidade do seu sentimento-abismo
Ouço seu grito desesperado perdido em meio à essência das coisas
E subitamente percebo o vermelho da sua imagem a pisotear virtudes e conselhos

Em um movimento brusco e delicado,
Subo às cordas da razão e sacudo as barbas da sensibilidade
Enquanto continua dedicado a massacrar moralidade e decência
Vitimando irremediavelmente toda a hipocrisia
E conferindo ao mundo mais liberdade

Emancipada e plena, sigo em busca do indivíduo que me tornei
Atropelando toda a vulgaridade que o mundo valoriza e deifica
Abandonando tudo aquilo que me lembra quem eu não quero ser mais
Tudo o que me faz pálida e cinza

Ao seu lado, assumo minha condição mais selvagem
E primitivamente aguço olhar, olfato e visão
Enquanto me ensina e aprende a revoltar o mundo e a si mesmo
Encontro a humanidade que não conhecia e da qual tanta saudade sentia

Ao seu lado, tenho instintos, sangue e vísceras
Tenho medo da morte e nenhuma certeza na vida
Perco razão, valores e sobretudo a moral.
E de repente percebo que nunca fui tão humana...!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Saudade da minha poesia

Sinto saudade da minha poesia...

Eram tempos de incerteza
Angústia, decadência e dúvidas
Eram tempos de poesia

Uma paixão desmedida e descabida
sem futuro, passado ou importância
Das que não alimentam sonhos
que não se traduzem em rotina

Uma paixão quase sem paixão
Porque cética, amoral e pontualmente carnal
Tão intensa quanto inóspita
desconexa da vida e das coisas do mundo

Sem momentos românticos ou dramáticos
sem palavras leais ou furiosas
Apenas minha mais íntima poesia
sórdida, autêntica, densa e loquaz

Sinto saudade da minha poesia
da sua cumplicidade decadente com o mundo
me apresentando inteira e despida
à minha própria condição humana

Sinto saudade
da paixão da minha poesia

domingo, 25 de outubro de 2009

Reticências

As reticências da sua existência pesam no meu ser
Dóem

machucam cotidianamente


Antes um ponto final.
Duro, cético...
mas cicatrizante!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Avesso do Mundo (uma homenagem à vida)


No sabugo do pensamento
(quando pensar chega a doer)
Achei uma ideia engraçada:
E se o mundo girasse ao contrário?

Seriam os poderosos mais humildes?
E os mais humildes?
Teriam direito a um naco de dignidade?

Ah! Melhor ainda...
Se o mundo girasse ao contrário
Talvez não precisasse mais haver ricos e pobres
Apenas homens e mulheres livres
Simples.

Nessa reviravolta do planeta
Com tudo virado e mexido
O povo seria importante para os governos
Quem sabe não pudesse até mesmo participar efetivamente das decisões?
O povo ditando o rumo...!

Se o mundo fosse virado
Eu teria mais filhos
Pois cada criança seria como uma fonte da juventude
Renovando a energia transformadora própria de cada um de nós

Se o mundo fosse mesmo ao contrário
Até gostar seria mais gostoso
Sem cobranças, opressões
Sem todos os (pré)conceitos arcaicos que matam o amor
Gostar seria cuidar, e ponto

Um dia ainda viramos o mundo de cabeça-pra-baixo
Vai doer o sabugo das ideias conceber tudo isso...
Mas há de valer a pena!

Na postagem original: Tô ficando pra tia! É a conclusão que chego ao receber uma maravilhosa notícia de 3 amigos ao mesmo tempo: vão ser papais! Um miniero, um baiano e um paulista. Um blogueiro, um poeta e um jornalista. A vocês três, meus queridos, meus parabéns e uma republicação (peço desculpas aos demais, mas a ocasião exige!)... é que esta poesia que expressa o que lhes desejo diante da mais alvissareira das novidades! Felicidades! ;)

sábado, 3 de outubro de 2009

Conclusões sobre o silêncio

É destinatário e senhor dos mais belos versos que já pude compor em prosa
És detentor de todas as características subjetivas que me instigam a vida e a morte hoje
És dono e deus da minha paixão atéia e amoral


Apresentei toda minha franqueza em poesia e súplica
Expus-me inteira e completa em carne e música
Estilhacei-me enquanto a vida não me permitia um átimo de descanso ou paz


E tu?!
Tu limpas a bunda com os papéis da minha poesia...!

As cores do teu inferno

É uma pena ver tua reação amarela ao espectro multicor que se nos apresentou...
Eu esperava preto-e-branco, ou ao menos uma sensibilidade lilás...
que pudesse amainar um pouco meu vermelho tão intenso
que desse vasão e contraste ao meu espírito revolto,
hóspede e prisioneiro da patética condição humana.

Mas não, és homem mero e comum
e não o demônio que eu supunha
Então que posso esperar?
Não há o que esperar ou desejar

das cores do teu frio inferno azul...!

sábado, 26 de setembro de 2009

Pedaço Perdido

Saí ontem esquecida do mundo e da vida
absorta em pensamentos que mal posso recordar...
Concentrada que estava na minha própria introspecção,
acho que deixei pra trás um pedaço de mim...

Procure o meu pedaço perdido
E, ao fazê-lo, vasculhe bem a casa

Veja se não está no interior da gaveta maliciosa
ou dentro do armário discreto
Sobre a cama que pára o tempo
ou sob as caixas de som inebriante

Procure em cada azulejo de saudade do seu banheiro
e até dentro das garrafas que guardam
a essência do norte de Minas no seu bar

E, caso encontre,
fique com o meu pedaço para você.
A esta altura,
acho que ele já lhe pertence mesmo...!

Ansiedade

Minha ansiedade é um saco sem fundo
Um saco de areia...
a cada caneca que se retira,
há mais um balde por esvaziar

Ainda que minha ansiedade seja de mau agouro,
tem a eternidade austera das coisas sacras
Tem a persistência de um trabalhador,
um brasileiro trabalhador

Minha ansiedade é crônica
quase compulsória
E é aguda...
insistente e estridente
qual pirraça de menino

Minha ansiedade é a minha condenação,
por ambicionar do mundo mais intensidade
do que a minha própria poesia pode suportar...!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A ansiedade das multidões (2)

Sim, indubitavelmente, o que sinto

é a ansiedade das multidões!

De que outra forma possso descrever
este turbilhão desordenado
de desespero e esperança?


Não é sentimento para um homem só...
Não cabe, não pode caber!

É a ansiedade das multidões
que me invade e arrebata
Que me joga de encontro
à decadente realidade do mundo

E me suga de volta ao inferno das possibilidades
milhões e trilhões de possibilidades frustradas!
Infinitas...


Infinita ansiedade
que tumultua meu reduzido universo
e o expande
com fórceps, com força
com a intensidade das multidões ansiosas...


As multidões anseiam respostas.
Embora talvez nem saibam exatamente a que perguntas...!

A ansiedade das multidões (1)

Cansei das palavras fortes
e da voz pálida com que expresso
minha ausência de sentimentos


O mundo me parece inóspito
e vazio hoje
(o mundo nunca teve sentido ou razão
É ele todo caos e rotina, uma coisa só).


Nestes dias de desespero,
percebo meu mais abominável defeito
que é também minha melhor virtude...
EU SINTO A ANSIEDADE DAS MULTIDÕES

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Aos hipócritas


É isto que me tira o rumo, o prumo
e a prosa
É esta maldita e abençoada cumplicidade
Que me envolve, retorce, engana
e desvenda o mundo


É neste momento eterno
Absolutamente real e inimaginável
Um tempo contraditório com o mundo
com as coisas, com a vida


É no teu leito, teu sagrado leito
onde entreténs com maestria meus demônios
E é agora, ontem e amanhã
(É tudo um tempo só...!)

É este desesperado querer
que toma conta dos meus sentidos, consciência e versos
Que me arrebata
e comete arroubos de ansiedade e despautério sobre a minha razão


É este delicioso e sórdido mistério da cumplicidade
...que os hipócritas não podem entender

Sou teu demônio

Sou essa que desperta o que há de pior em ti
tudo que há de mais baixo e grotesco
Sou eu quem explora e expõe tua imundície,

tua imoralidade e tua indecência

Jogo tua vileza, tua violência e toda a tua maldade

contra teu peito
e faço com que cada sentimento mesquinho

se espalhe por tuas entranhas

Desta forma te decifro, apresento-te a ti mesmo
e à tua ridícula condição humana
Sou aquela que te descobre

e que explora absolutamente tudo em ti
que te conhece pelo que tens de mais abominável
que suga cada detalhe sórdido de tua insignificante existência

Sou eu quem absorve toda a tua decadência
Que reviro teu inferno e me entreto e me sacio

com teu desprezo pelo bom e o justo

Sou o demônio da tua cumplicidade contigo mesmo e com o mundo
Que te devora e depois te devolve pior
e melhor...!

Como demônio me alimento dos teus pecados,
teus excessos e tua carne podre

Pela minha natureza abjeta, ninguém me alimenta mais do que ti
Ninguém é mais cúmplice de tuas fraquezas e da tua fúria
Ninguém ama mais a intimidade de tua patética alcova mundana

Sou essa que despreza tudo que há em ti
E que vaga em busca dos teus vermes de pior aspecto

Pois sou demônio que vive de se alimentar desta tua cumplicidade com a realidade decadente do mundo

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Aviso aos navegantes!


Jovens, interrompo as postagens poéticas para um comunicado importante... o "Botando o verso no trombone" acaba de receber um SELO!!! Viva!!!!
... E, pelas regras, devo indicar outros 10 blogs, comunicá-los, e citar 5 coisas de que gosto (adorei!).
Como o selo veio do meu presidente* Ramon Fonseca (blog "Os sonhos não envelhecem"), não posso negar o encaminhamento! rsrs Então segue:


Blogs (a ordem dos fatores não altera o produto):

1. Janela sobre a palavra - Renatinha Mielli (jornalista, e uma referência para mim)

2. Blog do Miro - Altamiro Borges (idem Renatinha)

3. Conversa Afiada - Paulo Henrique Amorim (dispensa apresentações)

4. Fatos Sociais - Théo Machado (militante da UJS-RJ)

5. Blog do Ivo - Os meninos e o povo no poder - Ivo Braga (diretor da UBES no Ceará)

6. Cozinha do NoSense - Michael Genofre (militante do PCdoB - PR)

7. DêLírios Líricos - Rubinho Berenger (um grande poeta, e muito querido)

8. Luzes Laterais - também é do Rubinho

9. UEE-MG - União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais - É claaarooooo!!! Não podia faltar! ;)

10. UCMG - União Colegial de Minas Gerais (viva os secundas!)
5 coisas de que gosto (putz! só 5?):

- Amigos-queridos-que-já-fazem-parte-da-minha-família-de-tão-queridos
- Textos, palavras, verso e afins
- Morango com chocolate
- Dançar
- Ver que muitas pessoas leram o que escrevi e deixaram até comentários!
(rsrs... quase um apelo!)

Bom, é isso... e, a propósito, sobre o asterisco lá em cima:

*Ramon Fonseca foi presidente da UEE-MG entre 2002 e 2004 e pela liderança que sempre exerceu, pela referência política que se tornou para mim e pelo carinho que tenho por este jovem, será sempre meu presidente!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Momento

Quando absolutamente todas as palavras que pronuncio soam fúteis
e a avalanche que me atordoa a cabeça é constituída de pensamentos rasos, ridículos
Há apenas um momento que me faz achar magnífico
ser esta frágil junção de vísceras, sangue e pele...

Um momento tão natural quanto grandioso
e tão necessário quanto desejado...

A palavra paz

É neste momento em que a ausência pesa como morte...
insuportável, gera dor física

É quando os sentidos parecem não funcionar para o mundo

Funcionam apenas para agudizar uma dor pungente
que, vindo da alma, toma absolutamente todos os músculos
e os retorce

É neste preciso momento que um certo sorriso me arrebata

e me lança contra a parede da saudade

A violência do encontro

faz respingar mil beijos calorosos
em cada expressão da sua face risonha

E, passada a intensidade,

Vem o momento
em que o verbete "paz" adquire um sentido
que extrapola a burocracia do Aurélio

Primavera

A tristeza desse frio que me corta a esperança de um novo verão
A leveza dessa primavera triste, presa entre o tórrido e o gélido dos dias
A destreza dessa vida infame, tão fulgaz quanto supérflua


Ai de mim que não sou verão ensolarado

Que como primavera me apresento frágil
e hipocritamente alegre


Ai de mim que nunca soube o que é alegria

e que dela dependo para sobreviver

domingo, 16 de agosto de 2009

Saudade tem gosto de melancia

A melancia hoje tinha sabor de saudade
O pão, a nata, a geléia de goiaba
Até as cadeiras e a mesa que não balançou para derrubar meu leite da xícara
Tudo, absolutamente tudo, tem gosto, jeito e cheiro de saudade

Mas uma saudade gostosa, sem angústia ou ansiedade
Recheada de sorrisos que rolam e se espreguiçam sobre as lembranças
Uma saudade que não carrega a tristeza da distância, mas a cumplicidade do encontro

Que se regojiza ouvindo músicas, lendo poemas, vendo fotos, provando sabores familiares
E que até em novas experiências de sabores, sons e cores encontra espaço para lembranças

Entretanto, por mais deliciosa que seja essa minha saudade,
Ainda é saudade...!
E por isso carrega em si a contradição de ser ao mesmo tempo alegre e triste

Por isso, depois que enviar todas as suas músicas
Depois de lhe enviar todos os meus poemas
Depois de ver e rever repetidas vezes todas as fotos,
Venha ao meu encontro

Pegue carona nos meus sonhos ou numa nuvem passageira
Venha pelo leito de um rio, ou de um riso
Mas venha

Pois a xícara de leite não derramado,
o som da água que milagrosamente cai do alto das pedras,
e a minha cumplicidade,
Já estão com saudade

Jurema

Jurema é engraçada
Faz poema e não fala de amor

Jurema, tão alegre, parece amarga

Só faz poesia xingando a humanidade
Falando de decadência, medocridade e afins

Jurema é gozada

Vive romantismo e escreve realismo

Ê Jurema...!

Olha que a vida dá o troco, heim!?

Meu silêncio

O silêncio ensurdece
O grito liberta

O silêncio mata... e salva
O grito explode

O silêncio espera
O grito desespera

Meu silêncio não traz paz
É agitado, nervoso e torturante
Meu silêncio não tem serenidade ou
tranqüilidade

E meu grito... é de alívio!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Detalhes em vermelho e cinza

Sinto os dias como engrenagens carcomidas
Que rangem descompassadas gritando a insignificância da vida

Meus pensamentos desesperados criam enorme tumulto em minha cabeça

enquanto minha poesia aparece como o sorriso do gato de Alice,
sempre por ali... sempre ciente de tudo.

As engrenagens se desencaixam e rompem as veias do meu cérebro
Em um derrame inebriante assisto ao baile das multidões

que destroem o mundo freneticamente,
um vício doentio e insuperável

Como uma música que perdeu a melodia,

ouço os gritos desesperados emitidos pela lucidez dos dias.
Ignoro-os.

Em meio ao balé alucinado,

percebo uma nuvem com formato de caos...
quem se importa¿
Detalhes são chatos.

E então todo o vermelho do mundo despenca sobre meu teto

Estrondos de vermelho, escombros de teto
Mania de cinza
Tudo se acalma cinza...

E aí já posso voltar à vida... mais cinza do que nunca...!

Avesso do mundo

No sabugo do pensamento
(quando pensar chega a doer)
Achei uma idéia engraçada:
E se o mundo girasse ao contrário?


Seriam os poderosos mais humildes?
E os mais humildes?
Teriam direito a um naco de dignidade?

Ah! Melhor ainda...
Se o mundo girasse ao contrário
Talvez não precisasse mais haver ricos e pobres
Apenas homens e mulheres livres
Simples

Nessa reviravolta do planeta
Com tudo virado e mexido
O povo seria importante para os governos
Quem sabe não pudesse até mesmo participar efetivamente das decisões?
O povo ditando o rumo...!

Se o mundo fosse virado
Eu teria mais filhos
Pois cada criança seria como uma fonte da juventude
Renovando a energia transformadora própria de cada um de nós

Se o mundo fosse mesmo ao contrário
Até gostar seria mais gostoso
Sem cobranças, opressões
Sem todos os (pré)conceitos arcaicos que matam o amor
Gostar seria cuidar, e ponto

Um dia ainda viramos o mundo de cabeça-prá-baixo
Vai doer o sabugo das idéias conceber tudo isso...
Mas há de valer a pena!

MSN

Cliquei na tua ausência, só para marcar presença
Fui buscar palavras
Para marcar um espaço, um pedaço do seu dia...
Vazio.

Fui catando cada verbete solto

Cada palavra não dita
Cada presença não tida... Vazio
Fiquei vazia.

Fechei a janela.

Fechei sua ausência mecanizada
Mas ela se fez mais forte (feroz)

Quando a ausência se fez tão presente

a palavra veio à tona
Forte e decidida
Transformou-se em carga elétrica
promoveu sinapses
movimentou músculos

Meus dedos estremeceram

agitaram-se
E digitaram de forma inequívoca:
"Eu quero você"

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Mentiras sobre o silêncio

A paz do silêncio é uma falácia
É nele que se ouvem os gritos angustiados de todos os desejos frustrados
Um turbilhão de sons e sentidos
Linchando, pisoteando, atropelando qualquer possibilidade de horizonte plácido
Qualquer resto de malfadada esperança

Meu coração está revolto... mas é covarde
Marcando assim minha sentença de vida incompleta
(embora desejosa de intensidade)

Ao fim, só preciso dormir

Demônios

Nesta insuportavelmente grande cidade, vagam medíocres demônios desesperados por alguma violência ou vício que lhes permita extravasar seus sentimentos mais torpes e vis...

Enquanto meus desajustados demônios lambuzam-se de humanidade (pobres deles!), e são impregnados de caos e derrota na sua incessante e vã busca pela malemolência que sucede a fúria

Eles sabem que neste mundo não há resposta para suas ridículas aflições.

Eles sabem que outros mundos não há.


Perfeição

Todas as formas simétricas
Todas as medidas exatas
Todos os sentimentos reprimidos

Todas as palavras corretas
Todas as tarefas bem feitas
Todas as opiniões não expressas

Todas as amenidades
Toda a estética superficial
Toda a mediocridade

Todas as leis cumpridas
Todos os limites respeitados
Todas as pessoas conformadas
Todas as mulheres submissas
Todas as crianças palidamente bem-comportadas

Nenhum homem feliz.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Abissal

A enfermidade do universo me contagia
Minha alma está prostrada sobre um mar de ceticismo
Que produz imensas ondas de caos
Elas são gigantes... e fortíssimas!

A espuma com aspecto absurdo
Explode na arrebentação da minha lucidez
(minha trágica e odiosa lucidez)

Quisera eu ignorar as coisas todas do mundo
Como os peixes que habitam a profundidade abissal
Desconhecem o mundo e, ao mesmo tempo, o conhecem por inteiro
Pois que o mundo não lhes passa de uma profunda escuridão

Sem mistérios, ciências e hipócrita preocupação com o meio-ambiente
Apenas a pastosa escuridão
Densa, segura
E garantidora de sua sábia ignorância

Eu invejo as criaturas abissais
Sempre sonhei me alienar do mundo e sua decadência
Sempre quis me alienar de mim (da minha insignificância)
Anseio, sobretudo, me alienar desta coisa soberba e mesquinha
a que chamamos humanidade

A minha Salvador

Quando cheguei em Salvador, achei a cidade bonita
Mas era uma cidade comum
Com capoeira, balangandãs e orixás...
mas ainda apenas uma cidade
Quente, cheia de pontos turísticos
mas uma cidade apenas.

Ocorre que a percepção de um lugar é também a percepção de um momento
Tempo e espaço são uma coisa só
(cientistas com poderosa capacidade de abstração já explicaram isso)

A vida me apresentou então uma Salvador lindíssima
Embora com todos os elementos conhecidos pelos milhares e milhões de turistas
que já tiveram a oportunidade de conhecer seu carnaval, seus santos e seu acarajé
Embora com as mesmas cores e formas que todos os gringos do mundo (e do Brasil) enxergam no Pelourinho

Uma Salvador completamente diferente... uma Salvador só minha!
Então meus sentidos, já esvoaçantes, completamente livres, de repente paralisaram
Como estivessem presos n'algum tipo de gaiola, ficaram imóveis
Ainda não sei de atônitos diante da beleza da vida, da cidade
Ou mesmo receosos de estragarem tão raro momento com algum movimento mais brusco ou algum som demasiadamente humano

Diz-me que não é pecado ser tão feliz!
Mas se disseres que é, confesso minha condição de contraventora das leis divinas
Entretanto, faço-o convicta da minha opção de valorizar a felicidade humana, que julgo mais pagã que profana
Pois o prazer de um momento feliz ignora a existência de Deus... ignora a existência do próprio mundo
Conhece apenas a experiência do gozo e não possui preocupações divinas... e nem mundanas

É que a felicidade é tão plena quanto pontual
Um momento de felicidade é como um recém nascido:
ignora completamente o mundo, embora todo o mundo pareça estar completamente concentrado apenas na sua existência

Talvez por isso nosso imaginário aproxime a loucura da felicidade
(A felicidade e a loucura carregam o mesmo grau de pureza e ingenuidade)
pois ambos desconhecem ou simplesmente desconsideram o mundo e toda a sua decadência
Claro, falo dos loucos romantizados pela nossa vontade de vislumbrar uma saída,
uma válvula de escape à loucura social (real e decadente) em que vivemos

E mesmo que por sentimento nobre ou altruísta eu quisesse dividir esta minha Salvador com o mundo,
não seria possível
Pois a dimensão da percepção de um momento-espaço é completamente individual
Intransferível

Fui feliz em Salvador
É uma pena saber que nunca mais conseguirei voltar lá
(àquela cidade presa no momento que não consigo descrever)
Mas a lembrança viva daquela Salvador certamente será trilha para a descoberta de novas capitais dentro de mim...!

Beleza triste

Homem negro, liberto
Luta e canta sua cultura
Capoeira lenta
Jogada no chão

O lamento da capoeira angola
É de saudade e libertação

Pássaro negro, vistoso
Canta triste e lindamente
Pássaro preso
Destituído de visão

O canto do assum preto
É de saudade e conformação

Idéias desvairadas, desconexas
E o semblante repleto de uma alegria muito triste
Vaga entre sentimentos confusos
E infundados, seja euforia ou depressão

Os olhos incompreensíveis do louco
São também de saudade, e alienação

Ouvi dizer que toda beleza é triste
Contestei veemente
(Tenho lembrança de belezas mui alegres)
A saudade decepou minha convicção

Descobri que a saudade é a própria contradição da alegria
Ela vem dentro da felicidade
Camuflada atrás de um sorriso
Ou de um olhar mais profundo
Dança entre os dedos que acariciam
Espreita cada sussurro
Saudade tem "xero"

Bela e triste,
Foi ela quem me provou a sabedoria do amigo poeta
Derrubou um bocado de certezas que eu tinha
E me fez querer um pouco mais de sol

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Mimetismo

As ondas insuportavelmente abafadas que embaçam a paisagem
São as mesmas que se entranham em minhas malemolentes vísceras
E caracterizam a indiferença deste domingo cinza-tédio

Enquanto abominava o retrato azedo da apatia humana
Uma fração de gesto impetuoso arrebatou minha lucidez
E fez explodir cores em todas as coisas
Cores absolutamente intensas, cores ruidosas

De mim transbordaram sensações igualmente multicores
Mimetizei-me
E gozei a plenitude de me confundir com o mundo

Inquietude

É quando treme a mão nervosa
E os frenéticos dedos incessantes
Rabiscam insanamente palavras absurdas
Letras agitadas, esbaforidas e perdidas
Versos como prosa e "vice-verso"


É quando a alma quer sair da carne
Quando quer ganhar o mundo
e ao mesmo tempo deixá-lo pra trás


É quando o sentimento não cabe no corpo
O sentido não cabe nas palavras
E o significado tampouco cabe na lógica


É quando finalmente começo a entender as coisas do mundo...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Genealogia da Saudade

A distância exata que separa dois corpos que já foram um
Não é possível ser medida em quilômetros frios
A insuportável distância que se figura como elemento adverso de uma paixão
É madrinha legítima da saudade

A saudade, por sua vez, é a síntese mais expressiva da contradição da vida.
(A mais absoluta)
É filha direta da tristeza e da felicidade
Da tristeza de ser pretérito e da felicidade tão bem guardada na lembrança

Por tão contraditória e insistente, saudade ganhou uma irmã.
A criança se chama esperança e guarda em si a expectativa viva de um novo momento feliz
Um momento inteiro, pleno. E repleto de possibilidades!

A Jean Cocteau (e ao CUCA-RJ)


O impossível não se pede
É feito por nós mesmos
Longe das limitações e medos mundanos
Longe da descrença do mundo em sua própria humanidade

O impossível não é aquilo que ninguém pode realizar

É o que ninguém ousou conquistar
É feito mais de raça que de sonho
Suor e sangue mais que devaneios

O impossível não se sente, não se toca, não se vê

É palavra morta na cabeça dos racionais (os lógicos!)
É sentença de vida a quem deseja mais que o medíocre

O impossível é desafio
E superação não é palavra de indivíduo
(Não tem homem sozinho que possa com aquilo que não se pode)
É trabalho de homem coletivo
É sabedoria de quem já aprendeu com a vida
E concluiu que força e soma são como que uma coisa só

O impossível é bom

As coisas do mundo
E o até o ser humano
Podem ser bons também

Ruim é essa coisa que limita e desune

Essas opressões todas que tornam o impossível tão hermético
E a vida tão cinza

(OBS.: Por meio do CUCA-RJ descobri que Jean Cocteau é um cara genial, autor da seguinte frase: "Não sabia que era impossível, foi lá e fez!" Achei magnífico! Daí a homenagem...!)

Paradoxo

Fuçando o baú das metalinguagens
Me vi buscando verbetes, palavras, termos e significados
Dicionário nenhum me servia Lembrança qualquer me surgia

Continuei remexendo a gramática dos versos
Procurando em cada semântica um sucesso
Qual nada! Fracasso e retrocesso!

Corri, gritei, simpatia rezei
Pulei, xinguei, urrei e cansei
Li, reli, refiz, e li... e fiz de novo
Li, reli, amassei, reli, rasguei... tudo outra vez!

A saga do poeta é em busca do irretocável verso
Da construção ideal, que se encaixa com precisão e suavidade dentro do poema
Dentro do ritmo, dentro da rima, dentro da idéia e do sentimento do homem

A tristeza de qualquer poeta é a mesma alegria
É a busca eterna e incessante de escrever o inexpressível

É o que o move cotidianamente
É o que o paralisa continuamente
É o que faz o poeta querer viver
E o que o leva a um desespero de morte em vida

Triste saga cumpre o poeta em busca da felicidade,
(tão inalcançável quanto indesejável)
Eterna saga