domingo, 4 de julho de 2010

Olhos do acaso

Seguia tranquila meu caminho pelo acaso
Enquanto a vida traçada dos meus dias se perdia em incertezas
Corri amores, mergulhei sofrimentos, saltei possibilidades
E parei. Atônita.

De repente me dei conta do mundo
E de que cada segundo é uma vida inteira

Me dei conta de você
E de cada pedaço de alegria que podemos decidir viver
considerando possibilidades, oportunidades, sonhos e paixões
Mas, sobretudo, contemplando seus olhos

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Versos e fluidos

Se em verso rio de prazer
Já em prosa me aproximara de você
Despretensiosa e cheia de malícia
Como a vida e os acasos

Se me pego desejosa a escrever
Já previa este vício me sorver
Maliciosa e cheia de carícia
Como os versos e a vida

Se me deixo por este jogo envolver
Já vencendo eu queria me perder
Ansiosa e cheia de angústias
Como os acasos e os meus versos

E já despida dos versos regrados
Já desvairada em meus medos errados
Só queria extravasar as retidões
as razões
as paixões
e toda a mesquinhez humana
em versos e fluidos

sábado, 8 de maio de 2010

Quinhão

Guerreira sem cor
Murcha e xoxa
Com a vida frouxa
Sem sonhar com amor

Alma grande sem feição
Chorosa e mesquinha
Sem rumo nem linha
Sem viver grande paixão

Mulher forte só por fora
Suas batalhas e alegrias
eu bem sei que fingia
(que por dentro só chora)

Menina, ouve com atenção
Que não vou repetir
Quem tem pena de si
não constrói seu quinhão...!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Branco púrpura

Quando não sinto sou cinza
bege...
gelo
E outras cores sem cor

Mas quando sou alma
até o meu branco é púrpura

terça-feira, 30 de março de 2010

Egoísmo


Não escrevo para a vastidão do mundo
Para a universalidade das coisas
Para o sentimento do homem...
É tudo mentira!

Escrevo para mim mesma
Para a mesquinhez do que sinto
Para a mediocridade do que penso
Para meu sentimento mais egoísta e vil

Escrevo para desabafar
O que nunca foi abafado
Pata libertar
O que nunca foi realmente preso

Escrevo para me expandir,
me espalhar em verso e ritmo
sobre tudo o que abomino
tudo o que admiro
tudo uma coisa só

Escrevo para me achar no mundo
e me perder em mim mesma
Para procurar o mundo
e me perder de mim

Escrevo porque sou... é só

segunda-feira, 8 de março de 2010

Sangue, vísceras e cartilagem

















Não tenho gosto refinado
Das coisas suaves e amenas
Com toques e pitadas pequenas
De absoluta futilidade

Tenho, antes, sabor intenso
E um gosto quase depravado
Imoral, chulo,
Violento e desumanizado

Tenho gosto pelas entranhas,
por coisas estranhas...
Sangue, vísceras e cartilagem
Meu reino por tua língua!
Tua língua em minha malandragem

Tenho gosto pelo teu gosto
ácido, doce e salgado
Tenho o rosto sobre teu rosto
teu sorriso, teu semblante cansado

Desaba sobre mim
Inteiro, franco e amado
Expõe ao mundo
Conta à vida
Avisa a todos
Que não se nega o meu chamado

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Em teu silêncio
















Em teu abraço misterioso
Entrego, cega e moca, a serenidade de meus dias

Envolta em tua densa sabedoria (suposta)
Largo meus membros frouxos e pensamentos soltos

Estende teu imenso e calmo colo
onde deito meu corpo e sentidos
(agora tão distantes)

E só assim, completamente entregue,
consigo reconhecer a humanidade em mim
(há muito perdida)

O leito do silêncio é a cama que conforta a ignorância
do mundo e dos homens
Posto que aliena e dá conhecimento,
a um só tempo,
dos sentimentos do homem
e das coisas do mundo

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Poesia sem som


O silêncio é poesia concentrada, comprimida, compactada
Poesia em potencial,
pronta para explodir em grito
sem som
sem moral
sem medo
sem rumo


O silencio é a própria poesia
expressa o que as palavras não podem
(não sabem)
É a máxima expressão do inexpressível
O sopro de incompreensão que identifica o desconhecido
o inalcançável
o espetacular
e o absurdamente banal


Sábio e poeta,
o silêncio é a mais segura (e incerta) estrada
para o impossível
e para todas as possibilidades


Denso e severo, é o mais curto (e longo) caminho
para chegar em si mesmo

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sobre a carcaça da humanidade


Avançavam violentamente
sobre a carcaça podre

Uns para algum tipo de ritual
não muito racional, porém solene
Outros para lhe comer a carne putrefata
A fim de alimentar sua própria vileza
e todo o seu desespero




Lutavam primitivamente
Arrancando mutuamente sangue, vísceras
e cartilagem
Constatando a fragilidade da vida na morte
Banalizando uma e outra



Comiam-se como quem ama
Matavam-se como quem come
Odiavam-se com poesia...
e muita frieza

Encontravam-se destituídos de todo e qualquer sentimento
Solidariedade, amor, compaixão... ódio
Nem um ódio visceral!
Eram apenas necessidade e instinto




Estavam absolutamente desumanizados...
E nunca foram tão humanos!