sábado, 26 de setembro de 2009

Pedaço Perdido

Saí ontem esquecida do mundo e da vida
absorta em pensamentos que mal posso recordar...
Concentrada que estava na minha própria introspecção,
acho que deixei pra trás um pedaço de mim...

Procure o meu pedaço perdido
E, ao fazê-lo, vasculhe bem a casa

Veja se não está no interior da gaveta maliciosa
ou dentro do armário discreto
Sobre a cama que pára o tempo
ou sob as caixas de som inebriante

Procure em cada azulejo de saudade do seu banheiro
e até dentro das garrafas que guardam
a essência do norte de Minas no seu bar

E, caso encontre,
fique com o meu pedaço para você.
A esta altura,
acho que ele já lhe pertence mesmo...!

Ansiedade

Minha ansiedade é um saco sem fundo
Um saco de areia...
a cada caneca que se retira,
há mais um balde por esvaziar

Ainda que minha ansiedade seja de mau agouro,
tem a eternidade austera das coisas sacras
Tem a persistência de um trabalhador,
um brasileiro trabalhador

Minha ansiedade é crônica
quase compulsória
E é aguda...
insistente e estridente
qual pirraça de menino

Minha ansiedade é a minha condenação,
por ambicionar do mundo mais intensidade
do que a minha própria poesia pode suportar...!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A ansiedade das multidões (2)

Sim, indubitavelmente, o que sinto

é a ansiedade das multidões!

De que outra forma possso descrever
este turbilhão desordenado
de desespero e esperança?


Não é sentimento para um homem só...
Não cabe, não pode caber!

É a ansiedade das multidões
que me invade e arrebata
Que me joga de encontro
à decadente realidade do mundo

E me suga de volta ao inferno das possibilidades
milhões e trilhões de possibilidades frustradas!
Infinitas...


Infinita ansiedade
que tumultua meu reduzido universo
e o expande
com fórceps, com força
com a intensidade das multidões ansiosas...


As multidões anseiam respostas.
Embora talvez nem saibam exatamente a que perguntas...!

A ansiedade das multidões (1)

Cansei das palavras fortes
e da voz pálida com que expresso
minha ausência de sentimentos


O mundo me parece inóspito
e vazio hoje
(o mundo nunca teve sentido ou razão
É ele todo caos e rotina, uma coisa só).


Nestes dias de desespero,
percebo meu mais abominável defeito
que é também minha melhor virtude...
EU SINTO A ANSIEDADE DAS MULTIDÕES

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Aos hipócritas


É isto que me tira o rumo, o prumo
e a prosa
É esta maldita e abençoada cumplicidade
Que me envolve, retorce, engana
e desvenda o mundo


É neste momento eterno
Absolutamente real e inimaginável
Um tempo contraditório com o mundo
com as coisas, com a vida


É no teu leito, teu sagrado leito
onde entreténs com maestria meus demônios
E é agora, ontem e amanhã
(É tudo um tempo só...!)

É este desesperado querer
que toma conta dos meus sentidos, consciência e versos
Que me arrebata
e comete arroubos de ansiedade e despautério sobre a minha razão


É este delicioso e sórdido mistério da cumplicidade
...que os hipócritas não podem entender

Sou teu demônio

Sou essa que desperta o que há de pior em ti
tudo que há de mais baixo e grotesco
Sou eu quem explora e expõe tua imundície,

tua imoralidade e tua indecência

Jogo tua vileza, tua violência e toda a tua maldade

contra teu peito
e faço com que cada sentimento mesquinho

se espalhe por tuas entranhas

Desta forma te decifro, apresento-te a ti mesmo
e à tua ridícula condição humana
Sou aquela que te descobre

e que explora absolutamente tudo em ti
que te conhece pelo que tens de mais abominável
que suga cada detalhe sórdido de tua insignificante existência

Sou eu quem absorve toda a tua decadência
Que reviro teu inferno e me entreto e me sacio

com teu desprezo pelo bom e o justo

Sou o demônio da tua cumplicidade contigo mesmo e com o mundo
Que te devora e depois te devolve pior
e melhor...!

Como demônio me alimento dos teus pecados,
teus excessos e tua carne podre

Pela minha natureza abjeta, ninguém me alimenta mais do que ti
Ninguém é mais cúmplice de tuas fraquezas e da tua fúria
Ninguém ama mais a intimidade de tua patética alcova mundana

Sou essa que despreza tudo que há em ti
E que vaga em busca dos teus vermes de pior aspecto

Pois sou demônio que vive de se alimentar desta tua cumplicidade com a realidade decadente do mundo